REFERÊNCIA
Porque quando eu tiver
De falar mal de velhos
Não falo de velho em si
Não do velho mestre, do velho vinho
Do velho contador de histórias
Não do velho baú de segredos
Nem do velho decifrador de enigmas
Não do velho Egito
Nem do preto velho que foi escravo
Não do velho poema, do velho marujo
Nem da velha canção, da velha parteira
Da velha baiana do acarajé
Mas da velhice caduca, deficitária, mal resolvida
Não sou desses insensatos
Já fui desconfiado de tudo
Com mais de trinta anos
Hoje, trinta dinheiros não servem pra nada
Porque cada um tem a idade que acredita
A velha Palestina
Ainda luta pelo novo chão
O jovem Mandela
Ainda suspira pela velha Johanesburgo
Onde o Apartheid ruiu de tão necrosado
É preciso silêncio pra contemplar
A poesia da palavra velho
Pro poeta, velho é história, é in-formação.
Che Guevara fica velho ?
Maiakovski, Gregório de Matos ?
Torquato, Leminski ?
Velho é Hitler, Pinochet, Bush !
Quer saber ?
Todo reacionário é um ultrapassado
Todo racista é um caduco
Todo machista é um decrepto
Quer mais ?
Todo artista é um jovem
Levado às últimas consequências
Camões é um garotão
Cervantes, belo menino
Qual a idade do velho beijo na boca ?
Ah! Meu velhinho da vista cansada...
Tua história me rejuvenesce
Não precisas correr
Tua energia já chega primeiro
Sou mais de ouvir Cartola e Candeia
Sexta-feira na Alvaro Alvim
Chorinho, muito chorinho
Sax solando carinhoso
Regado a cerveja geladinha...
Pô! De uma vez por todas
Vinde a mim a velha-guarda!
Vinde a mim a velha-guarda!
Do Cabuçu, da Portela, da Curva do S
Lembranças, doces lembranças...
Adolescêntricos poetas da Cinelândia, presente!
Chega de moleza!
Encontro vocês no Moringuinha
Cheio de gás
Com a boca na botija
EVOÉ!
14/12/2004
AO "Moleque Velho" Iverson Carneiro.