UMA OLHADELA DENTRO DO QUARTO

Um zumbido, apenas, e o resto é um silêncio terrível consumindo minha alma.

São passos na madrugada, espelhos enormes, rostos parados, fixos. Mãos nervosas. E os corpos, sensuais, estremecem no gozo da paixão.

Manchando o lençol imaculadamente branco de sangue.

A tez ilumina-se e o amor arrebenta o hímen da timidez deixando para trás os rancores do quarto. Claro.

A imensidão da hora se desfaz nos suspiros pesados, rítmicos, em que as mãos se afagam e os corpos se violentam, sagrados.

Eis o brilho. Eis a esperança. Porque o corpo não se macula no ódio.

O corpo não se violenta na simples dor. Tudo permanece cheio, farto, com a vida se sobrepondo ás aspirações e ás roupas jogadas no tapete macio, testemunhas da cena natural de perseguição, onde cada um dá e cada um tem.

O barulho permanece nos ouvidos atentos e voa para as encruzilhadas desfeitas de estradas virgens, seduzindo corações, enrijecendo membros.

Viril como um atleta. Úmido.

Introduz dentro do espaço a simples opção de amar, sem técnicas, moralidades ou necessidades bestiais. Apenas o instinto puro de um corpo que pede e reclama quando não lhe dão.

E se contorce numa cena, insano, fremente.

Existe no teto uma estria a mais. As janelas trancadas tremem de medo da claridade. As unhas marcam a carne, e a carne treme, pois a unha e a carne são uma só. Unidas.

O cheiro forte do líquido branco por sobre a cama. E o suor doce de pós-amor.

Mas claro que isto não termina docemente, porque as boas coisas da vida são simples e o amor é simples. Complicados somos nós.

A porta nem precisa ser trancada porque o amor não liga para fechadura, seja ela qual for, sem segredo ou com segredo.