Talvez...
... talvez...
Talvez ninguém sinta,
como talvez nunca deem conta...
Aquilo que transpassa,
atravessa e amarga,
deixa peito aberto,
ferida escancarada.
Sobra mágoa,
resta lamento...
Talvez não se perceba
o que é o real do tormento,
em quantos fragmentos coube (caberá) tal expressão:
talvez em tantos quantos são.
Ou mesmo talvez não...
Talvezes... Tais vezes...
São tantos e tantas,
que o nó na garganta
parece nunca se desfaz
deixa,
e parte depressa
como navio no cais:
mas nem tão depressa que a dor não possa se despedir.
E despindo-se, como dor,
deixa-nos de existir,
deixa, quem fica, no desistir,
com medo e angústia, sem insistir,
sem insistência...
Como talvez abranda a paciência,
e deixa mórbido, moribundo,
frouxo e lúgubre,
em lassidão devastada
em devastação prostrada...
Talvezes...
Tantas vezes,
tantas agruras,
que a vida, dura, torna-se insuportável,
cai em aporia:
o que fruía líquido, agora é lastimável,
impenetrável, como o tempo que se foi,
como a languidez, lassidão, como o que resta de paixão,
mas não mais...
E o que resta ao cais, à terra firme?
Nem - ou tão só - o tempo em chiste,
que, talvez, decide... e sem mais.