NÃO ÉS UMA QUALQUER

Não ames quem não te quer

Nem implores o seu amor

Tu tens muito mais valor

Não és uma qualquer

Olha para ti com prazer

Anda sempre bem arranjada

Dá-lhe assim uma bofetada

Sempre alegre e a sorrir

E se a tristeza te invadir

Canta canção magoada.

És muito nova minha amiga

Tens uma vida pela frente

Se ele te faz mau ambiente

Canta-lhe uma cantiga

Não fiques com dores de barriga

Nem te andes sempre culpando

Sai sozinha de vez em quando

Se um dia outro aparecer

Acredito que possa ser

Um português navegando.

Vive só para os teus filhos

Não queiras ninguém agora

Há-de aparecer uma hora

Que não terás empecilhos

Vai jogando matraquilhos

Sê livre, sempre lutando

Os teus filhos admirando

Com coragem e valentia

Vivendo cheia de alegria

O mar bravio enfrentando.

Em tempos também sofri

Andava de olhos fechados

Eles querem é ser amados

Por isso um dia cedi

Tantas mentiras lhe ouvi

Fiquei assim apanhada

Chegou a dar-me porrada

Mas a gente vai aprendendo

E assim cá vou vivendo

Bem longe da terra amada.

A gente só tem uma vida

Temos que a saber viver

Não há tempo a perder

Há que sarar qualquer ferida

Nunca te sintas abatida

Se ele te deixa baralhada

Afasta-te que vem cantada

Sabes do que ele é capaz

Deixa-o ficar para trás

Beijando o ar e mais nada!

Sei que não sou ninguém

Para estar a dar conselhos

Aprende com os mais velhos

Eles sabem mais de cem

Mas se isso não te convém

E julgas ser hipocrisia

Vê o que aconteceu à Maria!

Pôs um ponto final a tudo

Virou fadista e contudo

O fado nasceu um dia.

Um dia o vento muda

E verás tudo mais claro

Era barato agora é caro

Se precisares pede ajuda

Quem sabe se te sai a taluda

Isso é que era uma alegria

Mudavas da noite pro dia

Deixavas de te preocupar

Deitavas-te de papo pro ar

Enquanto o vento bulia.

Está quase a chegar o verão

Dá umas voltinhas pela praia

Veste uma bonita saia

Alegra o teu coração

Leva os filhos pela mão

Passa lá o dia inteiro

E à noite no banheiro

Canta-lhe com alegria

Aquela canção que se ouvia

Da boca de um marinheiro.

E assim em harmonia

A vida tem mais valor

Dá-lhe todo o teu amor

Eles te agradecerão um dia

Vive a vida com alegria

Vão os três dar um passeio

Sem nenhum homem pelo meio

Imaginem que estão no mar

Sentados a baloiçar

Num frágil barco veleiro.

Sei que te sentes carente

Mas tens que ter cuidado

Lembra um velho ditado

“Não há ecu que aguente”

Tudo parece boa gente

Mas depois da sinfonia

Adeus até qualquer dia

E és tu que ficas chorando

Vai sempre observando

Já José Régio dizia.

Maria Custódia Pereira

02/03/2013