...

não há luz...

infelizmente, não há nenhuma luz...

apenas cegueira. cegueira. escuro

e uns vultos de uma realidade impermeável

à frente, defronte,

apenas cegueira,

deficiência visual; linguística; espacial;

motora...

passo a mão perante os olhos, tentando tocar o branco,

o tecido branco de cetim, fantasmagórico,

a cortina assombrada, e, ao imaginá-la abrir, me parece

não haver esperança,

só escuro.

não parece haver segurança, mas névoa,

mas apenas ranger de dentes,

mas apenas fogo, labareda e fumaça espessa...

o tecido branco de cetim, que reflete o sol, e o verde,

do lado de lá é negro,

é profundo e insaciavelmente grande,

abismático,

atlântico, inundo,

cheio de relíquias carcomidas,

e eu, morto, à frente

de possibilidades inertes,

que jamais se movem

senão para rir flacidamente da minha angústia,

senão para me olhar nos olhos e rir,

demoníacas;

presentes; distantes...

senão para se me esquecerem e me alembrarem,

intervaladamente,

como que se fizesse do meu sonho

maldito mar.