Um Silva após a chuva
Se a luta corporal o fez
um Bruce Lee não de cinema,
mas das brigas reais
com unhas aparadas e sem
esporões escondidos
nos calcanhares
de Aquiles.
Se o fez:
estupendo colosso
do Ultimate Fighting
contra homens de ferro
do continente americano
e os de onde o sol se põe,
ou sparrings aprendizes.
Seus socos e pontapés
de as nossas fraquezas
nos redime a todos;
técnica, resistência –
o perseverar na luta com
saberes só seus
de golpes absorver
e forte ser uma
alma encorpada
na perspectiva
de não arrefecer na derrota
a todos inevitável;
porém tantas vezes
tornada derrota reversível.
Digo como Fernando pessoa
escreveu uma vez:
Nunca soube entre meus amigos
quem já tivesse levado porrada.
Exceto Anderson Silva;
ao nos dar um corpo à água amoldado:
resistente a quase todas pedreiras
por onde desferiu seus golpes,
depois das chuvas de vitórias
nos deixadas como
inefável legado,
antes de a fratura
na tíbia na luta
contra o novo
campeão Chris Weidman .
Silva, espero não
lute mais; não o
precisamos como
outro Ayrton Senna.
E há quem, contra o pensamento de
João Cabral de Melo Neto, não ache
no automóvel a morte, e só o glamour
desde o grand finale de James Dean;
não, não queremos seu The end;
só seu permanecer no tempo
e o reconhecimento dos muitos
brasileiros humildes em combates;
sem sonhos com carros de corrida
ou cultura narcísica de saber de cor
todos os cantos de Ezra Pound;
brasileiros pela não violência
na luta pelo pão ossudo ruído a cada
noite; no sono profundo sem ruminações
de quem sabe que a vida não é apenas
vencer, vencer, vencer, mas sim ter
lutado dentro de si mesmo a vitória.