Devaneio nesta Tarde
 
 
Acostumei-me com teu aroma
Das comidas
O som profundo das batidas
Dos socos do pilão
Essências
Que teces nos teus tachos
Teus cachos
Tuas lavandas
Tuas lendas
E riachos de sentimentos
Bulas de remédios
Apenas
Não bulas com meu coração
Ele é meio tonto
Gosta de acreditar em paixão
Novela de televisão
Poesia de cordel
 
 
Acostumei-me com tuas penumbras
Com teus soluços ocidentais
Teus bocejos notívagos
Aprendi que tua poesia
Você escreve na parede fria
Do cimento gélido
Esverdeado de musgos
Esverdeados
E fungis prismáticos
Sem nenhuma palavra
Mas gosta de contar seus veraneios
Seus devaneios
Acalentar-me nos seus seios
Quando estou completamente
Perdido
 
 
Nem cava na tabua
Tirando os pedaços da madeira
Que não é o rosto
Nem fechando os lábios
Da flauta
Para fazer a louca sinfonia
Daquele dia
Nem lendo um poema
Do Gullar
Tentando fazer um soneto
Lendo um conto do Machado
E aquele último poema do Bardo
Joaquim Sousa
Poeta cearense que foi morrer em outros
Mares
Com seu ultimo poema no bolso
E um vintém
 
Vou entender teus guaches
Tua sobrinha de joaninha
As cores da tua maquiagem
Tuas viagens
Kant viajou muito pela sua pura
Razão
E nunca se afastou de sua cidade
Jesus nunca fez grandes viagens
Mas estava em todos os lugares
E é o dono deste mundo
E criou o universo
E é dono do meu coração
Orienta-me na sua palavra
Nos domínios das mãos
E oração
 
E às vezes você me pergunta
Coisas que eu não sei responder
Um verbo intransitivo
Um vocábulo em catalão
Um acorde de piano
O final daquela peça
A variante aberta da Ruy Lopes
A complicação das variantes
Os versos de Cervantes
Aquela receita oriental
Com zen incenso mantras
e plantas
Do Nepal
 
Eu tinha tudo para ser um menino
Normal
Mas aquela tarde cinza e gritos
De andorinhas
Mios de gatos
Ela me emprestou o lobo da estepe
Alguém a náusea de Sartre
O estrangeiro de Camus
A transformação naquela louca metempsicose
O processo interminável
E parecer injusto
Descrito num formidável pessimismo
Poético
O Zaratrusta o Zorba Demian
A traição de Capitu
Os lábios de mel
Que corria na estrofe parágrafo
Lugares eqüidistantes
Esvoaçando as negras melenas
Misturando com as cores da asa
Da graúna
 
Fiquei cheio destas descrições ocidentais
Que me levaram com o meu fusca
E violão machucados
Arranhados de tanto blues
E fados
Por estradas intermináveis
Auroras eternamente pintadas
Pelos meus sentimentos
De lápis de cores
Meu olhar entra em profunda
Distorções
Contorções visuais
Meus ouvidos é uma tuba
Balbuciando
Um acorde rouco
Morto de sono
Puramente onírico
Chegando às aurículas
Em baixa velocidade da luz
Mas meu globo ocular explodiu
É um vulcão exalando
Larvas de cores por todos
Os lados
 
¿ Mucho loco no?
 
 
                      Luiz Alfredo - poeta
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
luiefmm
Enviado por luiefmm em 30/03/2014
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