Sina da vida fugitiva
Por Carlos Sena



Amanhã eu vou
Sem ter medo de um dia ter ficado. 
Vou assim meio perdido
Assim meio partido
Assim. 
Afinal, viver é um pouco da vida, assim.
O "como" da vida só saberei quando for,
Pois amanhã é dia de pescaria
E o mar não há.
Amanhã é dia de feira
E feira não há. 
Há miséria nas cercanias e eu tenho que ir.
Que adianta ficar por aqui
Se o sol não nos aquece a alma?
Que adianta a alma sem calor?
Por isso é que me vou.
Assim, montado nos costados da vida
Assim
Parido pela dor atrevida que não ensina parir.
Assim 
Destemido como quem já morreu
E fez da morte consorte da plenitude...
Afinal, ora direis,
Que vida nos sucumbe a alma
Se dentro de nos tudo cala?
Assim,
Vou na garupa do dia
Com as bênçãos de Maria...
Não a virgem, mas Maria...
Vadia Maria que se foi sem garupa e sem mania.