Medo!

Há tanto medo em todas fontes velozes,

Em cada pedra do rochedo e do dia,

Medo ao cair da tarde e da chuva fria

que mata a sede dos insanos algozes...

Nos jardins, medo de se abrirem as flores,

Medo no pio das aves, tremendo as asas,

São mudas as marés e as luzes das casas,

há um manto a lhes cobrir de cinza os alvores...

Um medo estranho toma as ruas da vida,

Medo do luto, do tufão do infinito,

É que esse vento que do céu lança o grito

traz nas mãos a desdita, a sanha homicida ...

É o medo do que já nem mais se conhece,

Até as sombras tremem sob o umbral,

Qual folha que, pendida por vendaval,

tem o chão como leito e, em dor, fenece.

Que medo é esse que ao mar joga a vergonha,

Que crava a faca nas entranhas do ser,

Cortando veias com medonho prazer

de quem se embebe em sua própria peçonha?

E o pior é ter o medo de sentir medo...