Poema pontiagudo
Este não é um poema com versos agudos...
Se um amor se vai, mais que um poeta mudo,
Dor pontiaguda é que lhe sangra em cada verso,
E o seu cantar é de caos, de vazio perverso,
A dor lhe corta a palavra em cada rima,
Mas ele não desfere golpes; é na esgrima
Com o encanto que, no canto, em delírio,
Diz da ausência, antes que se apague o círio...
E, na surpresa do sem volta, num deslize,
Cerra o punho e, insone, bate sobre a vida.
Não há palavra que não se ruborize...
Soluçam as letras no branco, sem medida...
Já sabem: mesmo que o poema se eternize
Não serão mais que o eco de uma voz contida.