Última vontade

Não farei testamento, bens não tenho;

O tesouro em que me guardo não é meu,

E a riqueza que ainda em mim retenho

Quero aos olhos de quem não me esqueceu.

Meu espólio, tesouro inestimável,

Parido em minha hora mais preciosa,

Sob brancarias de uma lua amável,

É feito de luz e com cheiro de rosa,

De herança, deixo aqui do céu ao lenho;

Não vou legar a sina dos meus eus

Nem as dores que me franzem o cenho:

Imolei-as na ara em que me fiz deus.

Minha jóia não mais é que um poema;

Esta a fortuna que me foi suprema.