Inglaterra

Saio tremendo pois a manhã é fria

Dentro do carro, tento não pensar.

Não pensar no frio que me angustia

Que vem de dentro d'alma, não do ar.

Vejo as ruas... Quisera poder retê-las:

As casas com o povo que está a despertar...

O caminho é longo, está cheio de estrelas

Que vão se apagando à fria luz solar.

No aeroporto, reconsidero todo o trajeto

O caminho que me levou e trouxe até ali.

Finjindo sorrio, mas a alma chora em secreto

Tive num sonho um presságio: Que esqueci!

Acima das nuvens escuras e pesadas do mundo

Voam rápidos e mais altos os meus pensamentos

De óculos na face dou vaza ao pranto profundo

Tão cheio de senões, frustrações e sofrimentos.

Dói-me ainda a lembrança daqueles que ficaram

Com sorrisos que escondiam as lágrimas sem fim:

Minha mãe, meu pai, meus irmãos todos silenciaram

Somente as lembranças inexatas permanecem em mim.

Do canto de minha janela vejo luzes d'Espanha

Madrid desperta o avião e inicia-se a descida

E eu sinto poderosa mão gigantesca e estranha

Sacudir impiedosamente minha miseranda vida.

Meu semblante enxuto agora está arrefecido

Duas horas passaram e já estou na Inglaterra.

No metrô, sou só mais um miserável desconhecido

-Um morto maravilhado com a pá que o enterra!

Marcos Aurelio Paiva
Enviado por Marcos Aurelio Paiva em 26/05/2007
Reeditado em 03/06/2007
Código do texto: T502211