sobre mim
sei que meu coração é grande.
mas, sobretudo, conheço-lhe as pequenezas,
as mesquinharias,
suas mais estúpidas pulsões.
meu coração, liberto de grilhões,
a cavocar o mundo em busca de tesouros,
a folhear páginas com pressa,
esganado. meu coração enganado,
danado. coitado!
não é nada.
não é nada.
amanhã, encontra-se morto,
a jorrar sangue,
a manchar lençóis e cobertores.
não é nada.
só que pulsa como se fosse viver eterno,
como se fosse cantar aos berros
para o mundo todo ouvir
com atenção
sua mais estonteante canção,
a qual, como um último suspiro,
faria o mundo todo de repente se transformar,
se sentar, se acalantar,
dormir sereno na paz
de deus...
de que deus? do seu, do meu.
mas, sobretudo, em paz,
a voar,
a estourar,
sempre mais,
sempre mais,
sempre mais.
meu coração, pequeno e grande
demais.