Um sonho

Gravou-se sobre a lápide um poema.

Em um túmulo registrou um dilema.

Nenhum corpo lá repousava

Ou apodrecia...

E o dia ainda amanhecia...

Cubo de mármore branco

Aos olhos perfeito,

– E quanta coisa é perfeita aos olhos,

Até descobrirmos o quanto nossos olhos

São imperfeitos ?

Ali exerceu seu único direito:

Falou de si, do seu ser mulher,

Que ela era o fruto

Dos sonhos que tivera

E da vida que vivera

E da que, sonhando, não vivera

E da que apenas em sonho vivera

E da que não vivera por ter perdido a capacidade de sonhar.

Dos versos entreviveram mistérios

Desses que se escondem na lápide berço de sonhos

Lapidou palavras da alma

Para além do dicionário

Descobriu que as palavras

Dizem sempre mais, muito mais,

Mas que o espirito é sábio...

E vai além

Do bem que é mal

E do mal que é bem

As palavras na lápide branca

Foram gravadas na minha alma.

São mais que um sonho

E se reproduzem, diariamente,

Nos versos que componho

Falam do que seria e não sou

E do que serei, e nem sei

São palavras de um tempo

Que em sonho encontrei.