de onde vêm essas vozes

dedicado a Verônica Almeida Kauffman

de onde vêm essas vozes que escuto

tortas, perdidas,

no vácuo,

em túneis de grandes dimensões,

rodopiando entre constelações

de estrelas,

gritando maniacamente?

que vozes são essas:

exus, orixás, ciganos,

grande legião de estranhos

que habita em mim —

de madrugada, de noite, de dia?

de onde vem essa transmissão desesperada de energia

da mente pro corpo, como a implodir em crateras

e

expandir-me ao sem-horizonte?

por que que eu não sento e descanso?

por que que eu não canso?

por que que eu não durmo de vez?

porque o tempo todo há esquizofrenias na minha vida,

mesmo quando não sou esquizofrênico.

porque o tempo todo eu estou demente,

— com ou sem sono,

na cama ou na rua.

o tempo todo eu estou acompanhado,

exagerado.

eu sou apanhado de jeito.

o tempo todo não estou a contento.

o tempo todo estou junto de mim!