MÚSICA CEGA (revista)

Não tenho tato para tanto

Não tenho alma para o canto

Apenas inquietude e contrariedade

Nenhum instrumento

Batuque ou flauta de vento

Mesmo assim tento

Sem som

Sem samba, sem rock sem bala na arma.

A composição vaza, fala, contraria.

Denso

Cuspo como quem expele sangue

Direto do coração.

Sigo inquieto e atento

Tecendo a minha canção cega

Sem tango, sem choro nem vela, só mágoa.

Ela soa como um blues

Daqueles sem dó de ferir

Para se ouvir só

Em noites sem janelas e estrelas

Sob o brilho das luzes raras da madrugada fria

A música das vielas sem saídas e dos becos tristes

Pelas quebradas da cidade sem coração

Deserto. Sigo!