Uma taça de neblinas

O orvalho desce e as estrelas suspiram,

A lua treme, geme a lira em enlevo.

Corre uma nuvem, vaga-lumes que giram

Murmuram: - Como é linda a noite em que escrevo!

Palpita a lua quando o mundo adormece

E a manhã vem colher o sono florido

Que enfeita o seio que, no sonho, intumesce

Em breve enleio de um sonhar atrevido...

Tu, sono, eterno amante das noites vazias,

Tu, que vagueias sem fim sobre as esquinas

Das ruas e vielas de sombras vadias,

Vem me servir da taça em que te neblinas...

E, nas delícias de um dormir inocente,

Talvez eu rasgue o véu de um sonho impudente...