Jardins do teu corpo

Pedalei o teu corpo

na minha bicicleta

hora após hora

dia após dia

cruzando prados e serras

de noite e de dia

silêncio e melodia

na minha bicicleta

da infância

Hora após hora

dia após dia

no teu corpo

construi uma casa

e um jardim

onde enterrei o passado

e a minha bicicleta velha

Cem vezes

no teu corpo ou jardim

plantei

cem videiras de vinho novo

e nos teus seios

caí embriagado

hora após hora

dia após dia

sem bicicleta

e sem passado

Era meio dia

e tinha fome

trepei à arvore

comi o fruto

doeu-me a barriga

parei

deu-me vontade de vomitar

vomitei:

-sapos, cobras, répteis

e na tua boca ancorei

o meu navio

até ao dia nascer

até ao dia morrer

morri contigo.