Má poesia
amarrotei a má poesia
esmaguei-a e chutei-a
para longe
para o mar
que a enrolou
de onda em onda
de vento em vento
de pôpa em pôpa
até cair na areia
moribunda e reles
cheirando a pomada chinesa
entre o sal a areia e as pedras
Uma gaivota negra
(seria um corvo, abutre talvez)
poisou em cima dela
e largou do ventre
um excremento voluptuoso
depois comeu-a
letra por letra
palavra por palavra
e voou
zonza e aturdida
arrotando a vinho
e pomada chinesa
Convencido então
que de uma gaivota
não se tratava
concerteza
acendi na boca uma útopia
e fui-me
a saltitar de duna em duna
rumo a outro poema