Olhos desvendados
Nos teu olhos enciumados
moram incensos cheiros
nunca antes desvendados
e a tua boca tem barcos
onde altivos marinheiros
trazem os beijos rebocados
Esse ciúme que te consome
E te alimenta em amplexo
Está à espera de quem te tome
em amor puro ou sexo
te mate a sede, a fome
O desejo tem pernas e nelas
as mãos correm desprendidas
correm o corpo como caravelas
içam velas soltas e bolidas
E até mesmo se soltam ao vento
os dedos mais sorrateiros
os que se escondem no tempo
d'amantes doridos e traiçoeiros
Que esperas então musa amada
para te perderes ao encontro
dos que estão em debandada?
aqueles que em poemas afronto
os que matam os cães na estrada
e se atam num nó sem ponto
desfia em mim os teus segredos
que a todos eles eu conheço
não tenhas medo dos medos
que neles eu amo e aconteço