O mostrengo
Saiu de um ovo
Daí nada de novo
Rompeu a casca
Escolheu a tasca
Bebeu-o todo...
Já não era bébé
E andava pelo pé
Nem galo nem pinto
Bebia branco e tinto
Na tasca e no café
Era filho de um ai
Era filho sem pai
A mãe que era meretriz
Não o perdeu por um triz
Num tempo que já lá vai
Cresceu ulceroso
Cansado, preguiçoso
Diz-se poeta
Pobre pateta
É só um vaidoso
Poema que fosse de jeito
Nunca se viu por ele feito
Acha-se grande iluminado
Mas é só um pobre coitado
Soneto bebido e imperfeito
Um dia apaixonou-se
No outro embriagou-se
De novo já não tinha nada
Com outro fugiu a amada
Teve filhos e casou-se...
Angustiado e perdido
Buscou para si um sentido
Fez-se dele próprio patrão
Na folia da restauração
E já não andava bebibo...
Fez-se ainda mais "poeta"
Muito mais pateta
De fato e gravata
Meteu a sua pata
Em livros, qual profeta...
Os da cultura Vereadores
Sendo disso sabedores
A um altar o levaram
Cantaram, idolatraram
Esses desgovernados senhores
E o povo que não é poeta
Ás vezes é apenas pateta
Pulou, cantou, brindou
E não se consciencializou
Da burrice daquela pileca...
Hoje o dito cujo é oficial
E julga-se um imortal
Saiu de um ovo
Daí nada de novo
Não hei-de ir ao funeral