LIBERDADE ENCARCERADA

(Poema dedicado ao Rio Paraíba do Norte)

Os dragões mecânicos

não param de cavar,

vão cavando noite e dia

na ribeira do Pilar,

vão deixando o Paraíba

num desarranjo sem par,

quase sem leito e sem vida

pro areeiro enricar!

Contra esta ação homicida

a justiça onde é que está?

Pra que valem tantas leis

se o dinheiro pode comprar

licenças e mais licenças,

o direito do Alvará

que encarcera a liberdade

do Paraíba passar!...

O Paraíba de outrora

que assombrava Pilar,

que causava tanto medo

ao menino Lins do Rego,

aquele rio onde é que está?

Que invadia o Corredor,

que passava em São Miguel

causando tanto temor,

agora está dominado,

humilhado, maltratado,

quase morto, sim senhor!

Rio preso, encarcerado,

por ganância de dinheiro,

quando serás libertado

do poder dos areeiros?

Ribeirinhos, defendei,

trazei de volta ao Pilar

aquele rio caudaloso,

que seguia, majestoso,

livremente para o mar!