P R E C I O S I D A D E S (55)

EU FALO DAS COISAS E DOS HOMENS

Ah, não me venham com teorias !

Eu vejo a desolação e a fome,

as angústias sem nome,

os pavores marcados para sempre

nas faces trágicas das vítimas.

Eu sei que vejo,

sei que imagino apenas uma ínfima,

uma insignificante parcela da tragédia.

E, se visse, não acreditava.

Se visse, dava em louco ou em profeta,

dava em chefe de bandidos,

em salteador de estrada,

- mas não acreditava !

Eu sei que vejo

os homens, as casas e os bichos.

Olho um pasmo sem limites

e fico sem palavras,

na dor de serem homens

que fizeram tudo isto:

esta pasta ensanguentada

a que reduziram a terra inteira,

esta lama de sangue e alma,

de coisa a ser,

e pergunto numa angústia

se ainda haverá alguma esperança,

se o ódio sequer servirá para alguma coisa . . .

. . .

Deixai-me chorar - e chorai !