MENINO DE ENGENHO (Poema/homenagem à José Lins do Rego)

MENINO DE ENGENHO

A infância melhor

Do mundo é a que tenho,

Sou menino feliz,

Sou menino de engenho.

O Engenho Corredor

É meu palco de amor,

Pois na bagaceira

É que tem brincadeira,

Com o Moleque Ricardo

É que aposto carreira.

E é na Casa Grande

Que tem um pomar,

Que têm pés de banana,

Têm pés de cajá,

Têm pés de pitomba

E tem Zefa Cajá!...

A infância melhor

Do mundo é a que tenho,

Sou menino feliz,

Sou menino de engenho.

Tem trem apitando,

Chegando a Pilar.

Capitão Vitorino

Querendo brigar,

Tem cheia do rio

Com tudo a arrastar,

Meu avô socorrendo

O que dá pra salvar.

Tem noite estrelada,

Tem noite medonha,

Têm história contada

Pela Velha Tontônia!

E tem cangaceiros

Por todo o terreiro,

Antonio Silvino

Querendo dinheiro.

A infância melhor

Do mundo é a que tenho,

Sou menino feliz,

Sou menino de engenho.

Sou menino treloso,

Brincando na vida,

Banhando-me nas águas

Do Rio Paraíba,

Levando capim

Pro carneiro Jasmim,

Levando uma flor

Pra Zefa Cajá,

Ouvindo cantar

O meu Marechal,

Canário da terra

Mais especial.

A infância melhor

Do mundo é a que tenho,

Sou menino feliz,

Sou menino de engenho.

Mas viro Doidinho

Quando vou estudar,

Sentindo saudades

Do velho Pilar,

Da Tia Naninha

A me consolar,

Da velha Tontônia

No engenho a contar

Histórias bonitas

Pra gente sonhar,

Do Moleque Ricardo

Querendo brincar

E dos banhos de rio

Com Zefa Cajá!

Minha infância querida

Cantar aqui venho;

Fui menino feliz,

Fui menino de engenho.

O tempo passou

Com força de enchente,

Vi-me de repente

Sendo promotor,

Mas o menino de engenho,

Lá do Corredor,

Não quis me deixar,

Com saudade, sem par,

Lembrei meu avô,

Tornei-me escritor,

Cantei meu lugar!

Minha infância querida

Cantar aqui venho;

Fui menino feliz,

Fui menino de engenho.

(Antonio Costta)