Sol da Manhã
Desde quando ainda é preciso
para fazer poesia
dar contas do simbolismo
modernismo e concretismo?
Desde quando é necessario
frequentar a Academia
tomar chá de vão fardão
pedir bençãos a Maria
e, diante do crucificado
fazer a circunflexão?
Desde quando se faz ingente
ser poeta funcionário?
Morrer de amor ao meio-dia
que se espalha por toda parte?
Tocar fanfarras na praça
estar condenado a alegria
desde quando é necessário?
O sol da manhã me convoca
ao lirismo que a arte proclama
na claridade da cidade
ou na savana africana.
Desde a Grécia Ocidental
que este sol me alimenta
no passear pelos bosques
ou pelas ruas da província
é na marcha natural
que o sol na testa se apresenta.
Na tépida permanência
seguido por ninfas nuas
poetizando sobre tudo
em um contínuo caminhar.
A vida em poesia, mesmo que não se domine
a riquesa, a pedra bruta da essência vernacular.
Para meu poema, que lhe valha a sábia ignorância
para poder mais aprender, para melhor duvidar.