Sol da Manhã

Desde quando ainda é preciso

para fazer poesia

dar contas do simbolismo

modernismo e concretismo?

Desde quando é necessario

frequentar a Academia

tomar chá de vão fardão

pedir bençãos a Maria

e, diante do crucificado

fazer a circunflexão?

Desde quando se faz ingente

ser poeta funcionário?

Morrer de amor ao meio-dia

que se espalha por toda parte?

Tocar fanfarras na praça

estar condenado a alegria

desde quando é necessário?

O sol da manhã me convoca

ao lirismo que a arte proclama

na claridade da cidade

ou na savana africana.

Desde a Grécia Ocidental

que este sol me alimenta

no passear pelos bosques

ou pelas ruas da província

é na marcha natural

que o sol na testa se apresenta.

Na tépida permanência

seguido por ninfas nuas

poetizando sobre tudo

em um contínuo caminhar.

A vida em poesia, mesmo que não se domine

a riquesa, a pedra bruta da essência vernacular.

Para meu poema, que lhe valha a sábia ignorância

para poder mais aprender, para melhor duvidar.

Ricardo S Reis
Enviado por Ricardo S Reis em 04/09/2007
Reeditado em 04/09/2007
Código do texto: T638881