Amor tactil às palavras

Antes havia a necessidade do livro,

que aflitivo.

Guardar papéis infindos em pastas,

para um dia passar a limpo,

poemas e o destino.

Que desatino,

o íntimo e o explícito,

tudo ali escrito nas linhas e entrelinhas,

nos guardados das gavetas empoeiradas

(que ainda cultivo num canto, longe da vista).

Mudar o mundo e a mim mesmo,

objetivos implícitos que eu queria,

e para isso achava que era preciso escrever bíblias,

novos preceitos pela ótica própria –

manuscritos que, toda vez que mexo,

é um vespeiro que assanho.

Enfim, nem livro,

Nem mudar o mundo.

A mim mesmo, ainda tento,

Mas tudo é mudo duro, pedra, aço e granito, vícios.

Talvez fique pra depois

Pra outra encarnação

Mas isso já não importa,

O que a memória guarda é o livro verdadeiro.