VIDA SECRETA DE UM INSANO LÚCIDO

I

Mataram a beleza

Em algum lugar de mim estou moribundo

Ozíris despedaçado

Morro de manhã e nasço ao anoitecer.

quero o Quê

A palavra impronunciável.

Meu espírito chora nas noites

De tanto olhar estrelas e galáxias

Lá eu quero tocar

Sou lá.

O meu conceito de beleza?

Sou lá.

Risíveis receitas torpes de ser

Não me peçam feituras de vida

Meu receituário está nos pergaminhos

eu adentro

Lá onde mora o impronunciável:

eu mesmo no ato mesmo de estar sendo.

Viagem adentro galaxial,

o olhar de dentro vê a humanidade toda:

Somos eus no todos nós

O todos nós somos eus

Multiplicado eu no espelho do tempo

Sou aqui.

Peço um riso concordância para o sou aqui

Alistem-se quantos queiram sou lá

multiplicado eu no espelho do tempo,

O vasto império da nossa força:

O meu conceito de beleza?

Sou lá aqui

II

Desliza por entre os dedos o mundo

Sou ampulheta

Sei em que ponto estamos da apoteose material

A nossa evolução fatal não nos deve assustar

O mar: palavra audível da extensão

O cosmo: palavra inaudível da vastidão

Sou lá

Bebo a vida e fico bêbado

A multidão dentro de nós

estamos comigo nesse isolado eus estamos

A vida bebo e fico bêbado