Concha profética

Oceanos feridos subirão montanhas

para buscar o sol na concha,

só a concha contem e não poderia

nunca ser de outra maneira

a lágrima da síntese das supremas

dores; guerra maior que a guerra,

fidelidade cega em luz verumosa,

corno berrante a clamar por tropas

que acabarão vencidas por boiadas,

quando não adiantar a brisa refrescante.

-

O sol que nos protege jamais

causa câncer, neoplásico

teratoma não merece a noite,

mas sempre recidiva nalgum ponto

dentro do nada para não ser

esquecido pela eternidade.

-

O sol que invade os olhos é apenas

fúria, mais frágil que marola

rejeitado por todas as espumas.

-

Dentro do vazio nunca cabe nada,

somente o mar não sabe o vazio,

somente o mar sabe através da concha

mandar clara mensagem aos navegantes:

-

os surdos serão curados, os cegos,

verdadeiros cegos continuarão

sempre a vagar submersos

dentro da claridade imensa do nada;

não há lugar no espaço onde

o nada caiba, embora possa

haver pedido de eutanásia,

a maior condenação sera viver no nada.

-

O algoz é vítima da inexistência,

e se só o algoz de si mesmo sobrevive

ao nada; aí vai a mensagem oceânica

só morrerão os que não merecem naufrágio.

Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 27/05/2020
Código do texto: T6960234
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