Concha profética
Oceanos feridos subirão montanhas
para buscar o sol na concha,
só a concha contem e não poderia
nunca ser de outra maneira
a lágrima da síntese das supremas
dores; guerra maior que a guerra,
fidelidade cega em luz verumosa,
corno berrante a clamar por tropas
que acabarão vencidas por boiadas,
quando não adiantar a brisa refrescante.
-
O sol que nos protege jamais
causa câncer, neoplásico
teratoma não merece a noite,
mas sempre recidiva nalgum ponto
dentro do nada para não ser
esquecido pela eternidade.
-
O sol que invade os olhos é apenas
fúria, mais frágil que marola
rejeitado por todas as espumas.
-
Dentro do vazio nunca cabe nada,
somente o mar não sabe o vazio,
somente o mar sabe através da concha
mandar clara mensagem aos navegantes:
-
os surdos serão curados, os cegos,
verdadeiros cegos continuarão
sempre a vagar submersos
dentro da claridade imensa do nada;
não há lugar no espaço onde
o nada caiba, embora possa
haver pedido de eutanásia,
a maior condenação sera viver no nada.
-
O algoz é vítima da inexistência,
e se só o algoz de si mesmo sobrevive
ao nada; aí vai a mensagem oceânica
só morrerão os que não merecem naufrágio.