DO ESTADO DE POESIA

Quando estou alheio do outro e de mim

a egrégora sacraliza-se no silêncio

centelha ou virgem raio

Astuciosa palavra solerte de zelos

aloja-se por baixo da carapaça

o rabo redondo do caramujo

suas antenas acusam o achado

saber-se ileso na comunicação

o transcendental

e a peculiar natureza viva

Em êxtase, arrasta-me, visceral

a advinda música, o violino do mistério

Derrama-se – voraz – a vertente insensata

deambulante no inútil que sou

o derradeiro desejo de nadas

Somente lerdezas e metáforas

sentimento do mundo sob os sapatos

absorvem-me ao fúlgido olfato

Súbito, extravasam palavras

guturais cordas irrompem nos tímpanos

do ego encaramujado

Des daí carrego sem dor

humilde morada de silêncios

Dentre os trastes, no pátio dela

o caos morde a palavra até o osso

MONCKS, Joaquim. POESIA A CÉU ABERTO. Obra inédita, 2020/21.

https://www.recantodasletras.com.br/poesias/7070279