P R E C I O S I D A D E S (245)

A UM POETA

Longe do estéril turbilhão da rua,

beneditino, escreve ! No aconchego

do claustro, no silêncio e no sossego,

trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua.

Mas que na forma se disfarce o emprego

do esforço: e a trama viva se construa

de tal modo que a imagem fique nua,

rica mas sóbria, como um templo grego.

Não se mostre na fábrica o suplício

do mestre. E, natural, o efeito agrade,

sem lembrar os andaimes do edifício,

Porque a Beleza, gêmea da Verdade,

arte pura, inimiga do artifício,

é a força e a graça na simplicidade.