Galeão da areia

Do que valem teus mastaréus e gurupés.

As velas redondas e as velas bastardas

Se ao tocar a praia, lá te fundeaste!

Do que valem tuas gáveas

Se é lá do mar que se observa a terra....

E tua perfeita quilha nunca sentiu a fúria e o enlevo das marés!

Nunca bordejaste e nunca foste adriçado!

Nada sabes do amargo das tormentas

Nem tampouco do doce de uma brisa.

Para que servem tuas amarras

Se a procela que lá se levanta

Não tocará sequer, um palmo do teu velame!

Do que valem teus remos [sobre o convés]

Se a calmaria da areia não os importuna,

E assim agonizam ociosos e já outoniços.

Mesmo, pois, observa a viração noturna

A esquadrinhar teu casco seminu

E um farol em idílios a chamar por ti.

2006/ releitura em 2021