FOLHAS AVULSAS

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UM CÉU AZUL

Um céu azul,

de claro azul reinante,

onde adejam os tons e os sinos graves,

onde os anjos desfiam pétalas suaves

e de onde uma asa acena

a cada instante...

Um céu que as almas buscam

com sonhadas chaves,

também as flores,

os gestos amáveis,

a alegria sem fim do olhar triunfante...

E onde cantam os sonhos, meu e teu...

Foi tudo o que sonhei

quando te quis,

tudo o que desejei… E assim se fez,

nas tardes de tristeza e viuvez,

com tua alma a dançar no azul do céu…

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UMA FOLHA, UMA ROSA…

Talvez fosse uma peça apenas...

Impressões numa tarde de verão...

Um jogo de ilusão

do meu desejo…

Talvez nem fosse triste sequer,

teu beijo...

Nem sei se foi um beijo

ou uma rosa,

o que lançaste na hora silenciosa...

Se aquela sombra móvel

junto dos teus pés,

foi de uma folha alta ou de um adeus…

Vivo da minha crença

doce e dolorosa...

- Foi na distância,

apenas uma folha, uma rosa...

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TEMA DE PARTIDA

O meu amor partiu... E foi tão breve

o adeus que ela me deu…

Foi como uma asa que brilhou… Luziu,

em rumo ao céu...

O meu amor partiu... O seu perfume

na tarde se perdeu...

A lua branca em nuvens se cobriu...

Cerrou–se o negro véu.

O meu amor partiu... E o portão

longo tempo inda rangeu...

Uma folha rolou, revoou, fugiu…

E uma lágrima pendeu.

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PRENÚNCIO

Eu sinto no meu íntimo que vais partir...

Antes talvez, da rosa próxima florir,

comigo não estejas…

Eu sinto nesse jeito vago que me beijas,

feito flor que começa a ressequir…

Às vezes, numa hora fugidia,

o teu olhar no meu olhar, paira… Desvia…

E até o espelho mostra, denuncia

o que não quero ver,

quando te voltas...

Que é preciso estar pronto

para o novo dia…

Ocultar teus bilhetes, tua fotografia,

não mais colher o pomo

da árvore que floresce em teu portão…

Mas como, meu Deus,

negar a mão que escreve esta poesia…?

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AS DESPEDIDAS

Um adeus,

alvorecendo em tons risonhos:

e despediram–se como asas os meus sonhos.

Um adeus,

brilhando as flores luzidias:

e despediram–se também as alegrias.

Um adeus,

na tarde de vagos perfumes:

e despediram–se depois os meus queixumes.

Um adeus,

escurecendo as horas, tensas:

e despediram–se em seguida as minhas

crenças.

Um adeus,

na noite quieta e decaída…

E despediu–se… – Porque não? – a minha vida.

Sigo eu

por sob as sombras desfolhadas.

E no meio de tantas e tantas pegadas…

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QUANDO ME ESPERARES

Quando me esperares,

de flor no cabelo,

ao redor as horas

vestindo véus de sombras sonhadoras...

Quando me esperares,

na tarde branda ou num final de primavera,

os pensamentos

em sonolenta esfera…

Quando me esperares,

pura e simplesmente,

não virei como um anjo ou demônio ardente…

Não virei como um sonho,

não virei como o luar nem como o sol nascente...

Virei com a humildade de um homem... E te amarei!

POEMETOPAISAGEM VAGA N° 05

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A FLOR QUE TE DAREI

Desabrocha–se a flor que te darei…

Sob o céu azul, sob o céu coberto,

ela floresce

sobre o chão incerto

do caminho que ainda não cruzei...

Passam as sombras vagas

em rumor,

como a poeira alada...

Como as folhas de uma árvore tombada

que o vento desfolhou com furor…

Por fim, tremeluzindo,

o astro–rei

a se perder na imensidão celeste...

Na noite melancólica e agreste,

fica ainda um segredo … – A flor que te darei!

A PIPA

Um dia, ao céu

meu coração voou,

na linha de um sonho,

de um desejo...

Foi o sopro delicado

de um beijo

que alguém me lançou.

E eu,

meio que a duvidar de mim,

fiquei como criança

a perseguir, no fim,

a pipa colorida, que escapou…

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EM TEMPO

É tempo ainda de olhar

nos olhos teus,

tomar tuas mãos nas horas claras...

De me purificar,

bebendo da tua boca

assim como das águas sagradas

de um altar...

Tempo de abandonar

meus fardos...

E entre tuas carícias suaves, repousar...

Despetalar o bem-me-quer dos gestos teus...

Cantar contigo, de mãos dadas sob o sol...

Depois silenciar,

vendo na curva do caminho a tua sombra

dissipar…

E A VIDA PASSOU...

Nem provei do frescor dourado

dos nascentes,

de uma fruta madura, num amanhecer;

nem bebi dos orvalhos,

fontes luzentes

de águas a pender...

Não semeei um grão por sobre a terra dura…

Ou uma sombra ergui,

ao sol abrasador.

Não guardei uma estrela, ao menos, a ternura

de um luar encantador.

Nem um jardim reguei,

numa manhã radiosa,

uma flor que me saúde no portão...

Uma semente, o espinho sequer, de uma rosa,

plantei sobre meu chão...

Não guardei um bilhete, um verso de amor,

um lenho caloroso quando o dia esfriou...

Não compus um bálsamo

ou sanei uma dor…

E a vida passou.

EU TE AMO

Eu te amo...

Eu te amo...

Te amo tanto…

Não me canso jamais em repetir:

como nas longas tardes de encanto

um sino a ecoar,

a persistir…

Eu te amo...

Te amo...

Te amarei, enquanto

uma flor sobre a terra ainda existir,

uma estrela nos céus,

um sonho,

um canto…

Na janela uma rosa a se abrir.

Eu te amo!

E os ventos ressoarão: "Eu te amo…"

Enquanto reflorir o velho ramo,

enquanto o bando se estender nos céus…

Eu te amo!

Eu te amo!

E tu também dirás: Eu te amo!

- Como num verso que a sós declamo,

como num beijo, como num adeus...

PARA TE DECLARAR O MEU AMOR

Prepararei pra ti jardins em flor;

o remanso,

das águas nos clarões,

de um ranger da cancela, as amplidões…

Da sombra do eucalipto,

o frescor.

Um adorno, dos lírios em primor,

do horizonte em luz,

um cordão...

Da minha pena amorosa,

uma canção,

para te declarar o meu amor!

Das nossas horas,

os dias felizes,

e desses dias, uma vida bela...

E viverei contigo, toda ela…

Dividiremos

um viver de paz.

E ainda assim… Talvez duvidarás…

TE AMAREI

Eu te amarei...

Com o amor que a canção não tange,

e nem sonham trovadores…

Não timbram violões madrugadores,

não inspiram, as rosas da amplidão.

O amor

que não reflete o monge ancião,

não pregam junto à chama

os pastores,

nem evocam, os bardos cantadores…

Só o silêncio do olhar

e o coração...

O amor

que tudo define,

o amor que tudo encerra,

feito alma que, tocando a flor da terra,

descobre-se, dos céus,

distante à lei…

E a quem mais

hei de cantar o amor,

se as palavras do amor, todas te dei?...

A PENA E A CANÇÃO

O meu céu é cinzento e não tem anjos,

nem meu berço também

teve os arranjos

das flores em botão.

Meus trilhos não têm fontes nem rosais;

nem a manhã dourada

dos trigais,

o sabor do meu pão.

Nem uma rosa, o livro dos amores,

colhida nalgum dia de esplendores...

Uma recordação…

Mas uma estrela tenho em meu caminho:

é a estrela

de quem segue sozinho

desígnios deste chão.

Na terra dos meus passos, tenho o sal

das lágrimas da vida...

- Cristal

de mais nobre padrão! -

E tenho em mim o sentimento nobre...

Retalho de esperança

que me cobre…

Tenho a pena e a canção...

MAIS NADA

Numa carícia, nos temos...

Convida-nos

a alcova iluminada…

Não sei

até quando nos teremos,

que céus ou chão

guiará nossos passos, na alvorada...

Entre nós

e um mundo esquecido,

range a cancela aos ventos embalada…

Toma-me nos teus braços,

desde agora,

que nos meus braços te tomo...

Mais nada!

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CÂNTICO

Raio de luz,

perene, tropical...

Na janela o florir de uma rama...

– É tua presença,

quase que irreal…

É tua sombra sobre minha cama.

Encanto sem sublimidade igual,

círios ardentes de dourada chama...

– É o teu sorriso… Límpido cristal…

São os teus olhos em suave trama.

Páginas de profunda confissão...

Palavras a brotar do coração,

num gesto doce,

um gesto que me chama…

– São tuas mãos…

Mãos leves, perfumosas...

Confortadoras, frágeis, carinhosas,

no poema sagrado

de quem ama…

O NOVO DIA

Esquecerei

as lágrimas roladas,

aprenderei então a ser sozinho…

Caminharão as horas desoladas…

Os dias

seguirão devagarinho...

As folhas outonais serão levadas…

Será reposta

a sombra no caminho...

E abraçarei

o sol das alvoradas,

assim como, nos céus, um passarinho...

POEMETO N° 08

Procuro sempre

a mensagem

que minha alma necessita,

no vago olhar de imagem

da tua lembrança infinita…

POEMETO N° 09

De tudo o que se foi,

que passou,

muito mais de ti

foi o que de ti ficou ...

PORQUE SENTES SAUDADE

Enches tua janela iluminada,

de encanto,

quando contas estrelas passadas...

Flores do campo, maciez de linho…

São teus seios

roçados de hora em hora,

no adejo das cortinas cor de vinho.

Trazes nos olhos a imagem bela

de um clarão de luar sobre a paisagem

que fitas da janela.

Vêm ventos de repente…

E agitam como agitam a folhagem

os teus cabelos soltos, longamente...

Noite... Hora furtiva… Hora derradeira...

O silêncio, como uma austera grade...

E as alvoradas cruzam a soleira…

E uma esperança

novamente invade...

– Porque sentes saudade!

EPITÁFIO

E deixo por aqui minha cruz.

Quieta a poeira,

findada a viagem,

e perto os céus azuis;

passados os caminhos e a paisagem,

folhas secas,

orvalho que reluz,

acenos da ramagem,

o vento natural que me conduz...

Rotas as vestes,

perdida a bagagem

e puído o capuz;

cansaço nos relentos e na aragem;

flores de sangue

nos meus passos nus...

Deita o pó da romagem...

E deixo por aqui minha cruz.