A Superstição

Era um exíguo povoado interiorano

(De um isolado território brasileiro)

Habitado por um povo muito Humano

Bem humilde, humorado e hospitaleiro!

Natural que ali reinasse e existisse

Muito acima da razão, sobrelevada

A riqueza cultural de uma crendice

Recrudescida pela ação oralizada!

Entre a paz daquele bom quotidiano

Um sujeito de prestígio sobranceiro

Porém longe de andar com ar ufano

Perpetrava o ofício de coveiro!

Agente único daquela atividade

Acolhido pelo povo com respeito,

Que um dia por razão da sua idade

Se Acabou na solitude do seu leito!

Após notarem o defunto do coveiro

Todos sairam pela rua a entoar:

Não se deve enterrar um carniceiro

Quem o fizer trará pra si um grande azar!

A voz da crença alarmou o povoado

E a idéia adquiriu mais relevância

Quando num misto de agouro e elegância

Um urubu se assentou sobre o finado!

Da multidão alguém gritou estarrecido:

O negro abutre apareceu pra visitá-lo...

E por ninguém se predispor à enterrá -lo,

Por sobre a cama que morreu foi corrompido!

Passaram anos, e onde havia o seu lar

Edificaram a pracinha do Coreto

Ao centro dela numa espécie de altar

Dá pra se ver o que restou do esqueleto!

Moreira Júnior
Enviado por Moreira Júnior em 15/07/2022
Código do texto: T7560237
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