Últimas Lembranças

A lagoa já secou

O riacho esturricado

E o chão gretado.

Este ano não te milho

No São João nem amendoim.

Até às rãs dos pés de gravata

A muito tempo já arribou,

No céu nem uma nuvem.

Ninguém sai mais em procissão

Para fazer promessas, é a fé

Do sertanejo sendo posta a prova.

Acabaram de os recursos

Debruçado na janela da tapera

Os olhos dele lacrimejam

Com as últimas boas lembranças

Que também estão ficando escassas.

A lagoa cheia e os gritos da patroa,

Manezin pega umas piabas

Para o almoço!

A pinguela reforçada

Para atravessar o riachinho teimoso.

O chão verdinho coberto de girimuns,

Batata doce e até inhame.

Uma lágrima cai

E nem bem bate no chão

Já secou.

E só agora ele percebe

Ela era vermelha.

É que faz um tempo que o coração chora.

Fernando Alencar

09/03/2006

Do livro Últimas Lembranças ( inédito)

Fernando Alencar
Enviado por Fernando Alencar em 10/05/2023
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