SEU CALDEIRÃO ERA UMA LATA

Fogo de lenha no chão

Entre duas pedras firmadas,

Como se fosse um fogão,

A margem d'uma calçada.

Fogo de lenha no chão,

Lenha tirada da mata,

Cozinhando a refeição

Da pobre negra Chibata.

Como panela uma lata

Preta, da cor de carvão,

E preta também Chibata,

Pobre mulher do sertão.

Dentro da lata — o que tinha?

Dentro da lata — feijão?

Dentro da lata — galinha?

Ou somente uma ilusão?

A vida não lhe foi pacata,

A vida não lhe foi passeio,

Foi como um golpe de faca

Que lhe partiu pelo meio!

Lutando com todas as forças

Contra o desprezo iracundo,

Contra as misérias da vida,

Para escapar neste mundo.

CHIBATA PRETA

Quem é que não se lembra

De uma negra, Chibata,

Que morava na Estação

E cozinhava em uma lata?

Eu vinha de Chã de Areia,

Por Figueiredo passava,

E chegando na Estação

Chibata Preta encontrava.

Conhecida por Chibata,

Chibata, Chibata Preta,

A pobrezinha, coitada,

Não tinha posses nem letra.

Era uma pobre indigente

Que morava bem ao léu;

Tinha por cama o chão

E por cobertor, o céu!

Era um amontoado de lixo

Na margem daquela rua;

Era a “casa” da Chibata,

Iluminada pela lua...

E por que “Chibata Preta”,

Também queres entender?

Não porque tinha u'a chibata

Pra si mesma defender.

Era porque a pobrezinha,

Que cozinhava em uma lata,

Era magra e pretinha

Parecendo uma chibata!...

Era a Chibata Preta

Conhecida no Pilar

E também da região

Que vinha nos visitar.

Era o terror das crianças

Aquela negra Chibata,

Que morava na Estação

E cozinhava em uma lata!...

Mas um dia a pobrezinha

Partiu da nossa cidade;

Pois passava frio e fome,

Tamanha necessidade!

E Pilar ainda se lembra,

E alguns sentem saudade;

Daquela mulher pretinha...

Que partiu pra eternidade!

— Antonio Costta