P R E C I O S I D A D E S (351)

P O Ç A D"Á G U A

Lembro bem daquele medo da infância.

Evitava as poças,

sobretudo as novas depois da chuva.

Afinal, uma delas pode não ter fundo

mesmo se parecendo com as outras.

Piso e súbito desabo inteira,

levanto voo para baixo,

cada vez mais para baixo,

na direção das nuvens refletidas,

e talvez mais além.

Depois a poça seca,

se fecha sobre mim,

e eu presa para sempre - onde -,

com um grito que não chega à superfície.

Só mais tarde veio a compreensão :

nem todas as aventuras más

cabem nas regras do mundo

e mesmo que quisessem

não poderiam acontecer.