trinta e um de dezembro (deslembranças)
eu esqueço quase tudo
é tanta coisa, que nem sei
o que estudei pelos anos
meus pecados, meus enganos
os danos que provoquei
o que sonhei esta noite
o que comi de manhã
a senha da internet
o insano trem das sete
a cor da flor da maçã
eu esqueço a minha mala
minha laia, meu lazer
a minha próxima fala
e o que acabei de dizer
do equilíbrio, da ginástica
da gramática do amor
pra que serve a matemática
e o título de eleitor
e flertar a lua extática
pra aluar meu mau humor
o que quer que aconteça
nada em mim se torna história
só não me sai da cabeça
do coração, da memória
dos meus parcos alfarrábios
(o que guardo com esmero
com ternura e desespero)
a tal lágrima bandida
que temperou nossos lábios
no beijo da despedida