Choro, agora...

Choro, agora...

Choro, agora... Mato saudades da poesia

Ela, a que me é da vida a alegria

Veio a mim, sussurrou-me um verso,

Ao ouvido, já surdo de tempo adverso.

Choro, agora...Emoção que alenta meu peito,

Um doce rio que me faz de feliz leito,

Na voz murmurante de uma rima sem som,

Que as liras dos anjos me fazem de tom...

Choro, agora...Ela encontrou meu eu perdido

Nas brumas de um tempo para o nada ido...

Chega-se a mim, toca-me como a vida

Faz-se meu ar, do coração a batida...

Choro, agora...Tecem palavras os meus dedos

Que correm sobre o papel, nervosos medos...

Podem não mais saber bordar alegorias,

Pois teceram outras rendas por muitos dias...

Choro, agora....Ai! é manso o meu momento,

O meu pranto nasce dentro do pensamento,

E vem beijar cada letra destas rondas

Para que não me afoguem tantas ondas...

Choro, agora...Minhas lágrimas são luz

A luz de um templo ausente de uma cruz

Onde orei as contas de tantos rosários,

E deitei na ara as cinzas do meu sudário...

Choro, agora...Pranto feito em rimas tortas

Brota das minhas escancaradas portas,

Quando as minhas mãos pintam esta cantiga,

Que canto em busca da palavra mais antiga...

Choro, agora...