Meu sal e norte!

Meu sal e norte!

Lizete Abrahão

Ah! Mar de fúria, luxúria dos meus rochedos,

mãos de espumas, brumas de meus medos;

águas insondáveis, ágeis de humores

gretam minhas arestas, gritam dores.

Por mais que eu negue, sobre o penhasco,

à beira do imenso, penso: do meu frasco

transborda a ilusão sobre a horda bravia;

ela vem, mas vai e sai levando o meu dia.

Ah, negra maré! Num suspiro, elevo-a

sobre o porto do meu horto, em névoa,

só para me iludir que nada há além

do que medra entre as pedras também.

É o sal que verto no concerto dos mares,

a sorte do meu norte buscando outros ares.