O palhaço...(ou o poeta da pantomima)

O palhaço...

(ou o poeta da pantomima)

Tal um viajante fugindo de emboscadas,

Vai ele movendo-se entre circos e estradas

Por distâncias que aos sonhos consomem

Colhendo migalhas que os fartos não comem

Vai forçando na lida, docemente, as fechaduras

Que teimam em trancar-lhe o riso de ternuras

Nos palcos e arenas, para viver sua pantomima

Cerra os ouvidos aos apelos da triste rima

Veste-se de luzes, de cores e purpurina,

Deixa no sótão a sombra que desanima

E as saudades que habitam as suas pupilas,

Atrás das portas da retina, calam tranqüilas

Alguns o fitam como se uma caricatura

Não compreendem tal humana armadura

Nem o garbo de que reveste sua tristeza

Que nua, ofenderia da cena, a beleza

(Pasma de inveja tanta pobre criatura,

Quando o pensa só de atavios e sem ternura...

A vaidade dela em pompas n'alma acastelada

Cega sua vida, não mais vê além de um nada )

Na boca, seu riso pintado sempre largo

Nos olhos, a arte de enganar o amargo...

Sua imagem de sonhador nos fascina

E a rir-se, quando chora de dor, nos ensina...

12/12/2001