Paisagem indiferente

Paisagem indiferente

Indiferentes, em eterna vigília,

Pelo firmamento, vertendo rubis,

Estrelas, arquitetas da poesia,

Não percebem os versos que não fiz.

E tudo à minha volta, polido, esquecido,

Não há sequer um sonho cristalizado

Para clarear a cor dos meus sentidos,

E planar sobre o meu acordar domado.

Nem uma vaga ao longe, tudo gesso...

As mãos do genial pintor do mundo

Pincelam em mim, como cruel adereço,

Uma paisagem da ausência do mundo

O céu, em lágrimas caindo lentamente,

Sobre o canto que na minha alma persiste,

Não ouve a mudez do meu peito fremente,

E, lento, esquece em mim seu manto triste

Assim, nesta boca de sono imenso,

Onde o grito surdo é de saudade,

Tristeza pousa um beijo de silêncio,

E o sonho voa para a eternidade.