SEM FRUTO OU DINASTIA

Não tem nenhum valor que falemos da dor

Do envelhecimento nobre após os quarenta

Da conduta mais ou menos sensata da fome

A descrição insossa da vida a nos devorar

Há um palácio real onde se grita e se ri?

Há seguras fontes onde a forma não se altera?

Quais as diversas maneiras de se exaltar?

É real o fogo morno que nos alivia e pondera?

Não tem nenhum valor que falemos da dor

Nem costumes há que nos livre do caos

A semente merecida não nos transporta ao céu

Não há serventia para o pobre ou para o velho

Mas me diz alguém:

" - é como uma casa sem meninos e sem cores

chão sem verde, árvore sem fruto ou dinastia

praças inertes de gritos ou musicas abortadas

ideograma de sons totalmente imprecisos"

E então religiosamente casto eu me calo

pois se não sei, o desprezo dos outros me incomoda

ergo uma urna funerária sobre o rosto

e me recolho, e não mais me declaro.