DAS MISÉRIAS DO MUNDO...

Das misérias do mundo...

Lizete Abrahão

Quando criança, eram dos meus encantos

Todas as lendas, mitos e fantasias.

Minhas manhãs subiam entre harmonias,

Jamais eu delas e do céu logrei prantos.

O coração, vestido de seu preceito,

O mar e a terra unia numa só imagem,

Albergue ingênuo, fez verdade a colagem

Inscrita em livro por um anjo insuspeito...

Mais tarde, um raio abriu a porta da luz,

Entre o céu que reinou e a terra iludida,

Vi espelhos foscos mais a chama perdida

Tal qual um templo que a ninguém mais seduz...

Em nome do que um dia pensou-se amém,

Os vis satãs espalham longas misérias,

Na ara da fé, laceram todas artérias

Daquele que quer crer mas não sabe em quem...

"Tem piedade, satã, desta longa miséria"

(Charles Baudelaire)