O CORSÁRIO

Da janela do meu quarto,

vislumbro uma escuna,

imersa na noite escura,

singrando o espelho do rio,

sobejando a clara espuma.

Noto eu que veleja

cortando as águas no fio.

Veleja sem claro rumo,

buscando, talvez a escuna,

a fria vertente do rio.

Quiçá vague em sua sina

à cumprir rotas corsárias,

já que o rio caudaloso,

une-se, sem temor, ao mar.

Quiçá ancore nas ilhas,

alente tesouro ou mina.

O certo é que veleja,

como assisto da janela.

Adentrando pela noite,

vai, sem traçado celeste,

destino que não se revela

nem no tarô, nem nas runas.

Vagueia, a par da vontade

sua leveza de escuna,

na correnteza do rio,

no espelho imerso em bruma.

Ricardo S Reis
Enviado por Ricardo S Reis em 23/01/2007
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