O CORSÁRIO
Da janela do meu quarto,
vislumbro uma escuna,
imersa na noite escura,
singrando o espelho do rio,
sobejando a clara espuma.
Noto eu que veleja
cortando as águas no fio.
Veleja sem claro rumo,
buscando, talvez a escuna,
a fria vertente do rio.
Quiçá vague em sua sina
à cumprir rotas corsárias,
já que o rio caudaloso,
une-se, sem temor, ao mar.
Quiçá ancore nas ilhas,
alente tesouro ou mina.
O certo é que veleja,
como assisto da janela.
Adentrando pela noite,
vai, sem traçado celeste,
destino que não se revela
nem no tarô, nem nas runas.
Vagueia, a par da vontade
sua leveza de escuna,
na correnteza do rio,
no espelho imerso em bruma.