O poeta e as cinzas

Há tempos cinzentos

De puro lamento

São cinzas caídas das árvores

Queimadas nas roças

No limiar das praças

Separando os abraços

Mas são apenas cinzas

Criando outros laços

Na terra dos embaraços

E o poeta...

Carece encontrar nas escórias

Palavras rasgadas

Esbraseadas

Ponderar

Minutar a história

Porque o homem é louco

O mundo é rouco

A vida é tão pouco

Diante do acaso a queimar

E a poesia?

Ah! Esta precisa

Exasperar

O fogo que nasce do desequilíbrio da alma

No inesperado da rotina

A cinza que abrolha

O vento que varre

A terra que morre

A lágrima que escorre

A cinza que corre

O ser que nasce

O homem que morre

O espectro que renasce

O contrassenso a revelar-se

fazendo do poeta um mero espectador

Do queimar das brasas

Do pó de cinzas a dispersar-se

Oh! Caro poeta

Não se importe com as acinzentas

Não viva só de tormentas

Pois a vida brota do nada

E a poesia? Ah! A poesia

Das brechas pela vida deixadas

Sônia Portugal
Enviado por Sônia Portugal em 02/01/2018
Código do texto: T6214874
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