O poeta e as cinzas
Há tempos cinzentos
De puro lamento
São cinzas caídas das árvores
Queimadas nas roças
No limiar das praças
Separando os abraços
Mas são apenas cinzas
Criando outros laços
Na terra dos embaraços
E o poeta...
Carece encontrar nas escórias
Palavras rasgadas
Esbraseadas
Ponderar
Minutar a história
Porque o homem é louco
O mundo é rouco
A vida é tão pouco
Diante do acaso a queimar
E a poesia?
Ah! Esta precisa
Exasperar
O fogo que nasce do desequilíbrio da alma
No inesperado da rotina
A cinza que abrolha
O vento que varre
A terra que morre
A lágrima que escorre
A cinza que corre
O ser que nasce
O homem que morre
O espectro que renasce
O contrassenso a revelar-se
fazendo do poeta um mero espectador
Do queimar das brasas
Do pó de cinzas a dispersar-se
Oh! Caro poeta
Não se importe com as acinzentas
Não viva só de tormentas
Pois a vida brota do nada
E a poesia? Ah! A poesia
Das brechas pela vida deixadas