Homem pelo cais

Ando no meio do nevoeiro

Atravesso a noite

Vestido de branco

Nessa magreza extrema

Cujo alimento infalível

É silêncio orquestrado pelo mar.

Mesmo bebendo a luz que rebrilha nos metais

Como adulação aos meus tranquilos passos

Deslizo flutuando entre a melancolia e a névoa.

Sirvo-me de mim condicionado ao desejo

Pois tenho a alma faminta de admiração

Quando lhe adiciono atenção e nervos

Ao teu corpo em mim na embarcação que desaparece

Mal atinge o horizonte.

Meu vulto em movimento pela neblina é escravo da direção que implora

O rumo a que atém o destino nessa quimera insana

Passando pelo cais onde flutuo

Perturbado pelos meus sapatos rudes.

Gotículas lembram suor e que em ordem onírica

É o leite dos seios lindos da noite borrifando brisa

Como único afeto ao homem que desenha vulto na escura cerração

Então ele se movimenta entre barcos jogados contra o caís.

Ele se movimenta entre barcos estourados pela corrente.

Ele se movimenta quase mudo como a cesta da gávea ao vento.

Acabo por inteiro em astuto sonho para matar a quietude.

Na regente nébula calma

Mato-a com requintes de lirismo

Composto por todos os beijos do píer

Todos os enamorados do cais

Todas as estrelas que faltam

Prosseguem amenamente

Indiferente ao frio

Nessa respiração firme de medo

De quem vai encontrar o que procura.