Vila da Fumaça

no rumorejar do tempo ido

na loca, a aguada fria que bruta, brota

opera em silencio, do tempo, o relógio

marcando o compasso

de um viver perdido

que cobrejando em curvas, se ia.

tornando-se em ribeirão

a vereda em certa rota

cruzando inteira a vila

que no oficio das orações

se perdia.

e se perdia no olor da cachaça

na serra da mantiqueira e no entorno

a bruma e os seres das águas

a brisa passando

e a tarde nascendo detrás do morro

passando, passando, e já agora é um rio

que desde aqui, vai ao mar.

da igreja e do cantochão

já não dá notícia

o rio, passando, se dista

e só o arrulhar atonal das águas

fervilhando nas pedras

é que agora se ouvia.

ecos perenes hábeis

e de vital mecanismo

há pontes que cortam o céu, levando um trem voador

há pontes do engenho humano, trançadas em aço e no amor

para suplantar os abismos

embaixo das mesmas pontes, arrulha apurado som

que é mais do que o acaso, dispondo meras notas

é o som das águas, da grave e profunda beleza

e tão leve, como nunca se obteve

na mais bela das sinfonias.

e a terra na distancia, como estendida esteira

de pedra e pó

era medida no mugir de um garrote abandonado

que clamava pela mãe na capoeira.

opera em silencio, o relógio do tempo

compasso desdobrado

no sol e no esterco

saneando homens, gado e desejos

e tudo se esvai num lampejo

repentino e fugaz momento.

Ricardo Sant´Anna Reis

RicardoSReis
Enviado por RicardoSReis em 20/11/2007
Reeditado em 20/11/2007
Código do texto: T744145