As três praias
O nordeste incessante da Guaibura
Soprava o meu rosto com ternura
Nas tantas tardes de amigos e risos
Pileques, família, paparicos
Lá, com vinte e poucos anos
Naqueles dias incomparáveis
No meio da gente, estranhos
Ora falava-se, ora contemplava-se
Pescador de faca na bainha
Pintava no mar uma gravura
Deitava sua rede na baía
Nas águas azuis da Guaibura
Saía só pela Peracanga
A refletir sobre antigos amores
De maiôs, biquínis e cangas
Era ave de rapina, açores
Esperava o pôr-do-sol à tardinha
Na maré baixa da Prainha
Pedaço de mar e céu com textura
Do outro lado da Guaibura
O verão inflamava a Bacutia
Enquanto o sol se explodia
Em corpos bronzeados de tesão
Sedentos de beijos sem razão
Havia um furor na enseada
Areia, corpos que ardiam em debandada
Uns que corriam, nadavam
Outros que caminhavam, flertavam
A noite guardava as surpresas
Para quem excitava a natureza
E buscava ser seu par
Nas areias quentes daquele mar
Dentro de mim havia
Um quê de melancolia
Que minha mente invadia
Nas tardes frias da Bacutia
O que seria?
Meu pensamento ainda vaga
Por entre as curvas das três praias
E jamais vou esquecer
Mesmo se um dia amadurecer.