POEMA A MIGUEL TORGA

“A morte purifica os sentimentos” (Miguel Torga)

Urge

Conhecer Torga

Nascido Rocha,

E em Pedra Lavrada

- Na forma de Urze -

Transformado! …

(Uma Criação frouxa,

Do Mundo tão complexo!)

Urge

Conhecer o confesso

Homem Pecador,

Giesta de Eterno amor

Pela suave Terra Firme

Que, sob sete palmos, enterra

A Lamentação do pecado

Em crua Câmara Ardente!...

(“No caixão

Ninguém pode fantasiar…”)

Urge

Comer o Pão Ázimo

Temperado com suor

Das Vindimas da saudade,

Ler os Contos da Montanha,

Viver com Os bichos

E perder-se no Abismo

Da Ansiedade.

Urge

Fazer O Tributo

Ao Cântico do Homem

Nascido além do Marão;

Conhecer O Paraíso

E fazer a Libertação

Das Penas do Purgatório.

(“Porque a Vida

É feita de nadas…”)

Urge

Por isso

Conhecer Portugal…

Vem e acorre:

É obrigatória

A Sinfonia

Da Urze

Num breve Adeus…

Pois “Um poeta não morre”!

13.08.2007 (henricabílio)

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CEM ANOS DE MIGUEL TORGA

Miguel Torga nasceu em 12 de Agosto de 1907 em S. Martinho de Anta, concelho de Sabrosa Trás-os-Montes, aldeia onde cresceu e que o havia de marcar para toda a vida. De nome Adolfo Correia da Rocha, adoptou o pseudónimo de Miguel Torga (torga é o nome dado à urze campestre que sobrevive nas fragas das montanhas, com raízes muito duras infiltradas por entre as rochas).

Depois de uma breve estadia no Porto, frequentou apenas por um ano, o seminário em Lamego. Em 1920 partiu para o Brasil, onde foi recebido na fazenda de um tio. Regressou depois a Portugal acompanhado do tio, que se prontificou a custear lhe os estudos em Coimbra. Em apenas três anos fez o curso do liceu, matriculando se a seguir na Faculdade de Medicina, onde terminou o curso em 1933.

Exerceu a profissão na terra natal, passou por Miranda do Corvo, mas foi em Coimbra que alguns anos mais tarde acabou por se fixar. "Atordoado na meninice e escravizado na adolescência, só agora podia renascer ao pé de cada rebento, correr a par de cada ribeiro, voar ao lado de cada ave", pouco sociável, mitigou a solidão rodeando se de livros. Foi logo após ter entrado para a universidade, que deu início à sua obra literária, com os livros "Ansiedade" e "Rampa". Só em 1936 passou a usar o pseudónimo que o havia de imortalizar.

Desde a década de trinta até 1944, escreveu uma obra vasta e marcante, em poesia, prosa e teatro. Não oferecia livros a ninguém, não dava autógrafos ou dedicatórias, para que o leitor fosse livre ao julgar o texto. Foi várias vezes candidato a Prémio Nobel da Literatura. Ganhou vários prémios entre eles o Grande Prémio Internacional de Poesia e em 1985 o Prémio Camões. Com ideias que se demarcavam do salazarismo, foi preso e pensou em sair do país, mas não o fez por se sentir preso à pátria e a Trás-os-Montes, longe do qual seria um "cadáver a respirar".

A sua poesia reflecte as apreensões, esperanças e angústias do seu tempo. Nos volumes do seu Diário, em prosa e em verso, encontramos crítica social, apontamentos de paisagem, esboço de contos, apreciações culturais e também magníficos textos da mais alta poesia. Toda a sua obra, embora multifacetada, é a expressão de um indivíduo vibrante e enternecido pelas criaturas, tremendamente ligado à sua terra natal. Faleceu em 1995.

Em 1996 foi fundado o Círculo Cultural Miguel Torga.

Bibliografia: Poesia: "Ansiedade" (1928), "Rampa" (1930), "Tributo" (1931), "Abismo" (1932), "O outro Livro de Job" (1936), "Lamentação" (1943), "Libertação" (1944), "Odes" (1946), "Nihil Sibi" (1948), "Cântico do Homem" (1950), "Alguns Poemas Ibéricos" (1952), "Penas do Purgatório" (1954), "Orfeu Rebelde" (1958), "Câmara Ardente" (1962), "Poemas Ibéricos" (1965). Ficção: "Pão Ázimo" (1931), "A Terceira Voz" (1934), "A Criação do Mundo" (5 volumes, 1937 1938 1939 1974 1981), "Bichos" (contos, 1940), "Contos da Montanha" (1941), "Rua" (1942), "O Senhor Ventura" (1943), "Novos Contos da Montanha" (1944), "Vindima" (romance, 1945), "Pedras Lavradas" (contos, 1951), "Traço de União" (1955), "Fogo Preso" (1976). Teatro: "Terra Firme, Mar" (1941), "O Paraíso" (1949), "Sinfonia" (poema dramático) (1947). Literatura autobiográfica: "Diário" (16 volumes, 1941 1993), "Portugal" (1950).

Eis um exemplo da poesia de Torga:

BUCÓLICA

A vida é feita de nadas

De grandes serras paradas

À espera de movimento;

De searas onduladas

Pelo vento;

De casas de moradia

Caídas e com sinais

De ninhos que outrora havia

Nos beirais;

De poeira;

De sombra de uma figueira;

De ver esta maravilha:

Meu Pai erguer uma videira

Como uma mãe que faz a trança à filha.

(S. Martinho de Anta, 30 de Abril de 1937)

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HENRICABILIO e MIGUEL TORGA
Enviado por HENRICABILIO em 13/08/2007
Reeditado em 16/01/2016
Código do texto: T605557
Classificação de conteúdo: seguro
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