Bípede falante

para Lelena Terra Camargo

prisioneiras da Torre de Babel,

sem castelos de sonhos ou cartas,

as bípedes falantes ruivo-negras,

solteiras, casadas boas amantes

ou mal resolvidas, divorciadas

discretas, virgens e viúvas – gêmeas

assemelhadas pela solidão – ;

na soleira da porta não esperam

nada: exceto por fobias, vão à luta.

sem olvidar detalhe, marca no mento:

uma cova, sinal de nascença

em pintura, luz amarela japonesa,

marfim africano nos dentes,

pele de pantera azul tigresa,

molejo nos quadris da brasileira,

caucasiana, nórdica, nordestina

miscigenada em falsa blonde,

mameluca sem arco e flecha tatuados

na memória da pele, mas falante

com sotaque (sultaque?) gaúcho

no momento do e agora tchê?!...

minuto decisivo da nudez plena

quando raptada por poeta traça

sobre lençol braços e pernas,

seios e nádegas, misteriosas

púbis sem segredos, mas enigma

apenas generoso, caído da torre

como revelação não para devorar

ou ser esfinge, embora seja amor

incognoscível para ser repetido

eterna descoberta, cabida na ternura

livre de quem se sabe e desenha

o ruir das diferenças das línguas

de fogo a destruírem torres sem

qualquer sentido, no gozo de

uma paz de encantar meus olhos,

música de fundo como celebração.

Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 11/03/2012
Código do texto: T3548402
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