Bípede falante
para Lelena Terra Camargo
prisioneiras da Torre de Babel,
sem castelos de sonhos ou cartas,
as bípedes falantes ruivo-negras,
solteiras, casadas boas amantes
ou mal resolvidas, divorciadas
discretas, virgens e viúvas – gêmeas
assemelhadas pela solidão – ;
na soleira da porta não esperam
nada: exceto por fobias, vão à luta.
sem olvidar detalhe, marca no mento:
uma cova, sinal de nascença
em pintura, luz amarela japonesa,
marfim africano nos dentes,
pele de pantera azul tigresa,
molejo nos quadris da brasileira,
caucasiana, nórdica, nordestina
miscigenada em falsa blonde,
mameluca sem arco e flecha tatuados
na memória da pele, mas falante
com sotaque (sultaque?) gaúcho
no momento do e agora tchê?!...
minuto decisivo da nudez plena
quando raptada por poeta traça
sobre lençol braços e pernas,
seios e nádegas, misteriosas
púbis sem segredos, mas enigma
apenas generoso, caído da torre
como revelação não para devorar
ou ser esfinge, embora seja amor
incognoscível para ser repetido
eterna descoberta, cabida na ternura
livre de quem se sabe e desenha
o ruir das diferenças das línguas
de fogo a destruírem torres sem
qualquer sentido, no gozo de
uma paz de encantar meus olhos,
música de fundo como celebração.